“Da fanfic ao fenômeno” – Elara Monteiro e o renascimento da literatura emocional

Entrevista por Carolyne Oliveira Moraes




Aos 31 anos, Elara Monteiro é um dos nomes mais falados da nova geração literária brasileira. Com uma escrita densa, emocionalmente sincera e estilisticamente ousada, ela conquistou um público fiel — e exigente. Mas sua história não começa em grandes editoras ou mesas de cafés parisienses. Começa em um fórum de fanfics sobre uma série cancelada e um coração inquieto por narrar tudo o que não cabia em silêncio.

Nesta entrevista exclusiva ao Scripta, Elara fala com coragem sobre seus começos, as dores do crescimento criativo e o que significa escrever para sobreviver.


Scripta: Você se lembra da primeira fanfic que escreveu?

Elara Monteiro: Lembro com detalhes embaraçosos (risos). Tinha 14 anos e era apaixonada por um personagem que mal aparecia na série. Escrevi uma história onde ele ganhava protagonismo, profundidade, traumas. Ninguém lia, mas eu atualizava religiosamente todo sábado. Acho que foi a primeira vez que entendi que escrever era mais sobre mim do que sobre o outro.


Scripta: O que as fanfics ensinaram que a academia literária talvez não ensine?

Elara: Escutar. Nas fanfics, os leitores comentam a cada capítulo. Eles dizem quando choram, quando se irritam, quando desistem. É uma troca viva. Isso me ensinou a respeitar o leitor como parte do texto. Também me ensinou sobre ritmo, cliffhangers, construção emocional. Ah — e me ensinou humildade. A internet não poupa críticas.


Scripta: Quando você percebeu que a sua escrita poderia ser algo “sério”?

Elara: Quando uma leitora me disse que saiu de uma crise de ansiedade após ler minha história. Ela me escreveu: “Seu personagem falava comigo quando ninguém mais falava”. Foi ali que entendi o que a literatura pode ser — um lugar onde a dor alheia encontra abrigo. Desde então, escrevo como quem constrói refúgios.


Scripta: Você já sentiu vergonha de ter começado com fanfics?

Elara: Nunca. O que senti foi medo do julgamento. Teve editora que torceu o nariz. Teve crítica que desdenhou. Mas é exatamente por isso que faço questão de contar essa parte da minha história. Fanfics são um território fértil. Muitas vozes potentes estão germinando ali. E mais: fanfics são literatura sim — talvez das mais sinceras que temos hoje.


Scripta: Seu estilo é muito próprio — denso, emocional, quase musical. Como você o definiria?

Elara: Acho que escrevo como quem costura cicatrizes com tinta. Me interessa o silêncio entre as palavras, as entrelinhas. Escrevo para processar. Meus textos são ecos de algo que doeu demais e que precisei transformar em beleza. Ou, pelo menos, em sentido.


Scripta: Você sente que há espaço, hoje, para a literatura sensível em meio ao mercado editorial acelerado?

Elara: Há espaço, mas exige resistência. A lógica da rapidez, da viralização, empurra os autores para fórmulas fáceis. Mas leitores ainda buscam profundidade — talvez até mais do que antes. A diferença é que agora eles procuram em silêncio, entre algoritmos e feeds. Quando encontram, seguram com força. É nisso que confio.


Scripta: Seu livro mais recente, “O Peso das Estrelas em Silêncio”, foi um sucesso estrondoso. Você esperava?

Elara: Não. Quando terminei de escrevê-lo, achei que era “intenso demais”. Achei que ninguém ia querer lidar com aquele nível de vulnerabilidade. Mas acho que as pessoas estavam famintas por isso. Por palavras que não tenham medo de sangrar. Foi uma surpresa linda — e assustadora.


Scripta: Você ainda lê fanfics?

Elara: Leio! Pouca gente sabe, mas sigo ativa em algumas comunidades com outro nome (risos). A energia criativa das fanfics é uma coisa que não quero perder nunca. É onde tudo começa de novo.


Scripta: Para quem ainda escreve fanfics e sonha com a publicação, o que você diria?

Elara: Escreva. Publique. Reescreva. Mas, acima de tudo, não apague. Aquilo que você escreve hoje com vergonha, pode ser o texto que salvará alguém amanhã. Não espere permissão para existir como escritora. Sua história já é legítima.



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Por: Carolyne Oliveira Moraes

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